Jiu-jitsu: esporte que transformou e transforma a comunidade
Arte marcial é utilizada como instrumento transformador na vida de jovens da comunidade do Córrego do Sargento
Por Gilberto Luiz
Não é de hoje que o esporte vem transformando vidas. Conhecida como arte suave, o jiu jitsu caracteriza-se por ser uma luta pelo qual sobrepõe-se pelo uso de técnicas de autodefesa e inteligência. Além de ser uma atividade física, é um importante agente transformador dentro da sociedade. E essa transformação chegou na vida de Luan Amorim. Hoje, com 24 anos, é professor e atleta de Jiu-jitsu. Oriundo da comunidade do Córrego do Sargento, no Bairro da Linha do Tiro, Zona Norte do Recife-PE, inquieto com a sua realidade e da sua comunidade, utilizou a sua profissão para criar um projeto e incentivar a juventude do local para a prática do Jiu-jitsu.
“Quando eu era mais novo eu não gostava de estudar. Qualquer coisa de esporte eu me interessava. Quando iniciei no jiu-jitsu, comecei a me destacar nos treinos e ganhar algumas competições. Foi assim o meu início como atleta. Não foi algo premeditado por mim, foi tudo um processo”, comentou.
Atleta há mais de 10 anos, venceu cerca de 20 competições e é dono de mais de 30 medalhas. Diante de tanta conquista, Luan enumera algumas, consideradas por ele, como as mais importantes na carreira. “Fui campeão Norte e Nordeste, Campeão Regional e Campeão Pernambucano diversas vezes”. É tanta conquista que não dá para discorrer em um único parágrafo, imagina na prateleira?
Após se consolidar como atleta da modalidade, decidiu que era o tempo certo para oferecer aulas de forma gratuita para os jovens da comunidade. Inicialmente, começou utilizando o espaço da antiga associação dos moradores do bairro para dar aulas. “Quando comecei a dar aula para crianças da comunidade, na época, meu primeiro professor mudou o tatame da academia e me deu as placas para utilizar no Córrego do Sargento, com o objetivo de incentivar jovens e crianças a se tornarem um atleta, utilizando o esporte como meio para fugir da marginalidade”.
Mesmo diante de uma iniciativa tão importante, nunca recebeu ajuda do Poder Estadual e Municipal, seja financeira ou de materiais. Tudo era feito por amor. Ao observar o progresso dos discentes, resolveu ingressá-los em competições para adquirirem experiência. Porém, naquela época, para a disputa de campeonatos, eram feitas vaquinhas e os kimonos eram frutos de doações. Sem nenhum recurso adicional, foi assim que o projeto se sustentou por muito tempo dentro da comunidade.
Quando conseguiu os equipamentos e kimonos, inscreveu os atletas em alguns eventos. A equipe se destacou. Começaram a ganhar medalhas, dentro e fora do estado. Crianças, jovens, adultos; os comandados pelo professor Luan deram frutos. “Muitos jovens daqui foram meus alunos do Jiu-jitsu. Eles têm o mesmo respeito por mim. O esporte, a arte marcial quebra barreiras da disciplina e perdura por muito tempo”, relatou.
Projeto Riselda Amorim
Mas, nem tudo são flores. Devido a um problema político, o espaço que era utilizado para os treinos foi fechado. Com isso, não havia mais local disponível na comunidade para continuar com o projeto - ainda sem nome. Luan continuou a disputar torneios por todo o Brasil. Já os seus alunos, tomaram um caminho diferente. Não continuaram, infelizmente.
Já haviam passado cinco anos e as aulas não aconteciam, porém, no início de 2020, surgiu uma nova iniciativa na comunidade, pelo qual parecia dar a movimentação necessária, prometendo dar continuidade nos projetos autônomos já existentes no local. O Coletivo Sargento Perifa, criado por dois estudantes de jornalismo, moradores da periferia que, assim como Luan, eram inquietos. Com intuito de dar visibilidade a essas ações de desenvolvimento na comunidade, lhe convidaram para dar continuidade com o seu projeto, mas, agora, com um nome e sem problemas partidários a ponto de interferir futuramente.
O professor, prontamente aceitou a proposta e, finalmente, deu um nome ao projeto, Riselda Amorim, uma homenagem à sua mãe, a qual sempre o apoiou e foi responsável por todas as conquistas na arte marcial e na vida. “O Sargento Perifa é uma ferramenta extremamente essencial na comunidade. Trouxe vida. Trouxe esperança. A união de jovens trabalhando pela comunidade. O perifa mudou a cara do Córrego do sargento para quem vê, para quem chega e até para os moradores”, explicou.
Hoje, a sede do Coletivo está em reforma para dar início às ações que precisam de uma área para realizar as atividades. O Riselda Amorim em breve estará ativo. O que não falta por parte do líder é a ansiedade em mostrar como o jiu-jitsu tem o poder de transformar a vida das pessoas, assim como mudou a dele.
“O jiu-jitsu mudou minha vida. Talvez eu não fosse o Luan professor e atleta se não fosse por ele. O maior impacto foi me profissionalizar. Eu não esperava que essa arte poderia mudar tanto a minha vida. O esporte pode fazer muito mais pela comunidade, da mesma forma que o jiu-jitsu impactou minha vida, ele também pode beneficiar muito mais pessoas. O sentimento de você ser útil para a comunidade não tem preço. Você conseguir ajudar outras pessoas através da sua profissão é gratificante”, finalizou.